Crítica | The Vigil

The Vigil
Data de lançamento: 09/11/2019
Direção: Keith Thomas
Distribuição: IFC Midnight 

         “The Vigil”, ou “A Vigília”, em tradução livre, é o longa-metragem de estreia do diretor e roteirista Keith Thomas. O filme foi gravado em 2019 e teve seu lançamento realizado durante 2020 e 2021 em diversos países. Aqui no Brasil, porém, ele ainda não chegou aos cinemas ou plataformas de streaming.

         O longa acompanha o jovem Yakov (Dave Davis, Férias Sangrentas de Verão), que recentemente decidiu largar a sua antiga comunidade judaica e enfrenta problemas para se manter e se integrar adequadamente na sociedade. A ele é oferecido o emprego de shommer para a família Litvak, membros da sua antiga comunidade. Enquanto passa a noite vigiando o corpo do Sr. Litvak, ele precisa lidar com a peculiar esposa do falecido e com algo que fará Yakov repensar suas convicções.

         Na cultura judaica o shommer é responsável, dentre outras obrigações, por vigiar o corpo de uma pessoa que faleceu durante a noite, até o serviço funerário chegar pela manhã. O shommer também é tido como um protetor da alma do falecido, impedindo que espíritos malignos ajam sobre ele. E é nesse segundo ponto que o filme investe.

         “The Vigil” , assim como “O Que Ficou Para Trás”, da Netflix, são exemplos de obras que se sustentam e se constroem a partir das experiências de vida dos seus protagonistas. A cultura judaica está para “The Vigil” como os preceitos do cristianismo estão para os longas de possessão demoníaca.

         A trama do filme se desenrola lentamente, não poupando tempo para apresentar seus personagens, a mente inquieta de Yakov, além de uma perturbada e não confiável Sra. Litvak (Lynn Cohen, Jogos Vorazes – Em Chamas). À medida que os primeiros acontecimentos estranhos ocorrem, somos forçados a questionar se o que está havendo é de fato algo sobrenatural ou algo criado pelo nosso narrador nem um pouco confiável.

         O filme se passa quase que completamente em um mesmo ambiente, a sala da casa onde o corpo está, e a ambientação e a fotografia acompanham muito bem a escalada de tensão. A casa, a princípio bem iluminada, vai escurecendo com o passar do tempo, fazendo com que o ambiente que era – na medida do possível – aconchegante, se torne cada vez mais claustrofóbico e repugnante. O jogo de sombras, a utilização de aparições fora do primeiro plano e os “sonhos” são muito bem utilizados aqui.

         Quando o filme parte de vez para o seu terceiro ato, é muito interessante ver como a narrativa progride de um lugar comum para algo que pode ser pensado por mais de um ponto de vista. O fim  de “The Vigil” é acompanhado por um respiro de alívio, e alguns dias pensando sobre o que pode de fato ter acontecido ali (pois, como eu disse, o narrador não é nem um pouco confiável).

         Com um baixo orçamento, atores não tão conhecidos e um diretor com pouquíssima experiência, o filme tinha tudo para ser bem abaixo da média. Contudo, apesar de não ser o suprassumo do horror, “The Vigil” apresenta uma trama concisa, com personagens cativantes e imperfeitos e momentos de tensão que colocam muitos diretores experientes no chinelo.