Crítica | Até a Morte

Até a Morte
(Till Death)

Data de Lançamento no Brasil: 09/06/2022
Direção: S.K. Dale
Distribuição: PlayArte Pictures

Por alguma razão, os fãs ávidos por um bom e intrigante suspense costumam ter mais oportunidades de se surpreenderem positivamente com uma nova produção do que os amantes de filmes de terror. Mas, ainda assim, isso não quer dizer que as probabilidades disso acontecer são altas. De forma geral, nos últimos anos ambos os gêneros têm encontrado dificuldades para oferecer algo de novo ou simplesmente nos ambientar diante de uma trama que nos entretenha de forma duradoura. O tão esperado e por fim mediano A Mulher na Janela (2021), por exemplo, provou ser um thriller incapaz de amarrar as pontas soltas de sua narrativa de maneira eficiente, além de nos desapontar em muitos momentos por seu ritmo inconsistente. Para nossa felicidade, o novo longa de S.K. Dale, Até a Morte, não somente marca uma ótima volta da atriz Megan Fox às telonas, como também nos conquista facilmente através da astúcia com que resolve cada uma de suas cenas.

Durante um relacionamento instável, Emma (Megan Fox) acorda algemada ao corpo de seu marido, morto, como parte de uma trama doentia de vingança. Incapaz de se soltar, ela precisa encontrar uma forma de se esconder e sobreviver quando dois assassinos chegam para colocar um fim à sua vida e eliminar todas as provas do crime.

Bebendo da fonte de Jogo Perigoso, mas em uma situação evidentemente diferente e mais tensa, Até a Morte explora bem as situações de perigo vivenciadas pela personagem principal, com a qual nos identificamos, mesmo tendo noção dos deslizes e más escolhas que cometeu no passado. Nos projetamos rapidamente na pele de Emma frente aos traumas físicos e emocionais enfrentados pela personagem, e principalmente devido à atual e covarde ameaça que coloca sua vida em risco.

Megan Fox se encontra aqui naquela que é, facilmente, a melhor atuação de sua carreira. Segurando lágrimas de nervoso enquanto transmite os receios e o instinto de sobrevivência de sua personagem com expressões faciais convincentes, a performance da atriz acaba por ser uma enorme razão da seriedade com a qual encaramos a narrativa. A direção confiante de S.K. Dale também contribui e muito para o dinamismo da trama, aproveitando-se muito bem do frio enfrentado pela protagonista e da limitação do espaço dos cômodos da casa sem permitir que o espectador perca seu norte.

O roteiro de Jason Carvey, por sua vez, não apenas propõe cenas criativas como as soluciona de maneira criativa. Cada tentativa de Emma de escapar da visão ou mesmo das amarras dos dois assassinos não soa em momento algum falsa, ou mesmo inverossímil. Em uma tensão constante que não nos permite piscar os olhos, acompanhamos ideias e ações inteligentes da personagem para se proteger ou permanecer escondida, capazes inclusive de nos fazer questionar se saberíamos tomar as mesmas sábias decisões diante de situações tão desesperadoras.

Mesmo sem se aprofundar nos traumas vividos pela personagem principal, e sem propiciar um enredo com maiores pretensões, Até a Morte funciona bem perante às ferramentas que possui. O suspense felizmente não perde tempo tentando percorrer terrenos inférteis ou caminhar sobre temas que não saberia abordar corretamente. De maneira objetiva, apropriada e segura, a narrativa encontra suas formas de nos surpreender e angustiar. Se trata sem dúvidas de um bom entretenimento garantido, para dar início a um promissor segundo semestre de filmes do gênero.