Crítica | Unseen (2023)

Unseen

Direção: Yoko Okumura

Ano: 2023

País: Estados Unidos da América

Distribuição: Paramount Home Entertainment

Nota do crítico:

Sabe aquele esquema de que “quando um dos seus sentidos vai diminuindo, os outros vão melhorando”? Isso não acontece com a protagonista de Unseen.

Emily (Midori Francis, Grey’s Anatomy), uma jovem médica que tem um problema gigante de visão, conta apenas com a ajuda de uma desconhecida, Sam (Jolene Purdy, The White Lotus), funcionária de um posto de gasolina, para tentar se livrar de seu ex-namorado que a sequestrou. Juntas, através de uma chamada de vídeo, elas vão fazer o máximo para se manter em segurança. 

O longa faz parte do acordo de oito filmes originais entre a Blumhouse Television (divisão de TV da produtora) e a MGM+ e chamou minha atenção pelo protagonismo feminino e oriental, contando inclusive com a diretora, Yoko Okumura, que estreia aqui na direção de longa metragem. 

Apesar de achar um bom filme, ele ainda possui vários problemas que, às vezes, atrapalham bastante na imersão. A maior parte deles, na minha opinião, vem do roteiro que peca no desenvolvimento dos acontecimentos e principalmente no que diz respeito a Sam. 

Enquanto a gente torce para Emily, que foge de seu sequestrador e tenta fazer o possível para chegar em um porto seguro – uma personagem muito mais fácil de se relacionar – acompanhamos também Sam sendo um arquétipo ambulante. Sam é uma personagem tímida, envergonhada e insegura. Coisas que numa situação de risco se tornam um problema mortal. 

Tudo bem, entendemos um pouco mais sobre ela no decorrer do filme, mas ainda assim… Sam é uma personagem que sempre toma decisões ruins. Ela é tão azarada que, às vezes, chega a ser meio cômico ao invés de tenso.

O roteiro também é bem conveniente em diversos momentos apenas com o intuito de manter o filme andando. Em um momento em especial, onde Emily tem a chance de acabar com tudo de uma vez, é impedida pela moralidade de Sam mesmo sobre risco de vida. Em outro, Charlie (Michael Patrick Lane, Dinasty) consegue alcançar Emily mas deixa ela ir embora com o intuito de… caçar ela? 

Porém, quando o filme acerta, ele acerta. As cenas de embate entre Emily e Charlie são tensas e cruas. As situações entre Sam e Carol (Missi Pyle, Ma) – uma cliente soberba do posto –  que vão escalonando para momentos cada vez mais absurdos também nos envolve.

Além do óbvio, uma pessoa com visão baixa tendo de escapar de um ex namorado abusivo, há ainda outro subtexto – meio óbvio, também – do racismo e invisibilização do povo àsio-americano nos Estados Unidos. 

Apesar de ser algo importante de ser mostrado, é obviamente uma das coisas que eu mais vi críticas ao filme. “Filme de lacração”, como diriam.

Os principais antagonistas da trama, Charlie e Carol, são interpretados por atores brancos. Vi gente reclamando disso, além de pessoas falando sobre como o tom da personagem da Missi Pyle é exagerado e caricato. Esse é exatamente o ponto da crítica. 

Mesmo partindo do pressuposto de que assassinos em série são majoritariamente brancos – apesar de uma mudança na última década –, isso não é posto em discussão de forma direta no filme. Lá ele é um homem abusivo que, no final das contas, é branco. 

Já a Carol é apenas uma das milhares de Karens do mundo. Se você pesquisar pelo termo em redes sociais vai presenciar coisas tão absurdas que nem um filme roteirizado conseguiu fazer jus. Elas, majoritariamente, são mulheres, ricas e brancas. 

Por fim, a comunidade oriental é sim uma das mais marginalizadas e atingidas por crimes de ódio no país. Todos sabemos que o sistema de justiça dos EUA não é o mais coerente do mundo quando se fala em proteção de pessoas não brancas.

Voltando aos aspectos técnicos, gosto de como o filme estiliza nossa experiência através das experiências das protagonistas. Telas divididas com efeitos “camp” (não bregas, jamais); as cores que estão num tom abaixo do neon; a câmera que brinca de filmar de ângulos/enquadramentos não muito tradicionais.

Em seus 76 minutos de duração, Unseen conta uma história com início, meio e fim, com seus defeitos mas ainda assim com subtextos delicados e bons momentos de tensão além da sensação de recompensa ao seu fim.