Crítica | Vem Brincar

Vem Brincar
(Come and Play)
Data de Lançamento: 28/10/2020
Direção: Jacob Chase
Distribuição: Focus Features

Um casal com problemas na relação tenta proporcionar a melhor educação para seu filho autista. O menino, Oliver (Azhy Robertson, História de Um Casamento), tem uma grande obsessão por telas, a do smartphone e a do tablet, principalmente. Ele passa boa parte do seu dia grudado nelas, assistindo a seu desenho preferido: Bob Esponja. As telas também servem para a sua comunicação. Não tendo desenvolvido a fala, Oliver se comunica por um aplicativo que verbaliza suas necessidades e pensamentos.

Um dia, em seu celular, aparece um livro digital chamado Monstros Incompreendidos, que apresenta a história de Larry, um monstro que não tem amigos por ser diferente. Ele acaba por cooptar os anseios não só de Oliver, como de seus pais, que se esforçam para que o filho socialize com outras crianças, embora tomem algumas decisões erradas.

O estilo da narrativa se aproxima muito do sucesso Babadook (2014), embora falte a Vem Brincar (2020) o mesmo refinamento de roteiro. Enquanto no longa australiano a diretora Jennifer Kent optou por centralizar a trama no luto dividido por mãe e filho, Jacob Chase optou por intercalar o drama com jump scares previsíveis, o que não é uma opção ruim, contudo, fica faltando substância ao roteiro.

Larry se mostra um monstro bastante real. Ele se comunica com Oliver através das telas. A família não demora a perceber que algo estranho está acontecendo e eles tem que enfrentar a criatura juntos. Como o monstro apenas aparece através de telas, o uso da câmera do celular é um recurso muito bem utilizado pelo filme para criar tensão.

O filme apenas se perde realmente na parte em que se revela a origem de Larry, algo completamente desnecessário. Logo em seguida, o roteiro decide explicitar os problemas e medos que a mãe, Sarah (Gillian Jacobs) tem em relação a seu filho. O timming para essa explicitação não poderia ser pior. Rapidamente, no entanto, o filme retorna ao clima que pauta a maior parte de sua duração.

Vem Brincar (2020) é um título surpreendente. Teve uma excelente estreia nos cinemas dos EUA em outubro, ficando em primeiro lugar no seu fim de semana de estreia. Ele realmente possui alguns problemas, em especial quando tenta emular o estilo de Babadook (2014), porém, nos momentos em que é original, ele apresenta uma boa história, com uma boa construção de tensão.

 

Atenção: a partir desse ponto a crítica apresenta spoilers

O maior problema do longo é a cena da revelação. Colocar que Larry é um monstro surgido da solidão contemporânea porque as pessoas somente olham para suas telas e não mais uma para as outras, soa muito como um discurso saudosista de um tempo que nunca existiu. O monstro, que até então estava sendo construído de forma interessante, parece se esvaziar rapidamente como um balão.

Na sequência, Larry assombra a casa e Oliver entra em estado de desespero. Nesse momento o roteiro decide explicitar o drama de sua mãe. Em meio a um ataque sobrenatural ela grita para o filho: “Por que você não pode ser normal?”, lembrando uma famosa cena de Babadook (2014). O grande problema é que esse drama poderia ter sido introduzido em vários momentos, mas o diretor o deixou para o momento mais inconveniente, quando os personagens deveriam estar lutando por suas vidas.

Apesar de não saber encaixar de forma equilibrada o drama dentro do horror, Vem Brincar (2020) surpreende com algumas sequências bem tensas. É um filme que vale a pena assistir, sobretudo pela bela atuação do jovem Azhy Robertson.