Crítica | Vingança Sabor Cereja (1ª Temporada)

Vingança Sabor Cereja
(Brand New Cherry Flavor)
Data de lançamento: 13/08/2021
Criação: Nick Antosca e Lenore Zion
Distribuição: Netflix

         Hoje em dia é particularmente difícil falar sobre uma obra sem ser enfático. É sempre amar ou odiar. “Vingança Sabor Cereja” é uma das obras que está justamente sempre entre esses dois verbos dentro das rodas de críticas.
         A série, baseada em um livro de mesmo nome do escritor Todd Grimson, nos apresenta a aspirante a diretora Lisa Nova, que decide se vingar de Lou Burke, um produtor que rouba o trabalho da sua vida, o curta-metragem “Lucy’s Eye”. Ao conhecer a misteriosa Boro, Lisa se prende numa cama de gato infinita buscando uma vingança mágica e brutal que vai causar mais dano do que satisfação.
        
O desenvolvimento da série é lindo e intrigante, mas não é excitante. “Vingança Sabor Cereja” é louca de se acompanhar, a narrativa e a direção entram no clima de magia e piração da série e apresentam momentos tensos, nojentos e encontram formas criativas de contar a história, como, por exemplo, o segundo episódio que, para representar o estado de entorpecência de Lisa, traz um visual desfocado, com velocidade alterada e simulando o que a personagem sente. Isso mostra uma característica muito importante de uma série que entende o seu material.
        
Porém, como dito, a série não é excitante o suficiente. Mistério após mistério, loucura atrás de loucura, tudo demora mais do que o necessário para ser explicado ou desenvolvido de verdade. As situações começam a ser massantes e nem mesmo a atuação maravilhosa e expressiva de Rosa Salazar consegue fazer com que não percamos a atenção em diversos momentos dos episódios.
        
O elenco, aliás, dá o nome de verdade aqui. Salazar e Catherine Keener – intérprete de Boro, a bruxa intrigante e ambígua que cria vários momentos que movem a trama – levam boa parte da série através das suas expressões, mostrando uma entrega maravilhosa. Erick Lange está maravilhosamente repulsivo em diversos momentos, onde sentimos nojo e pena do personagem em diversos momentos. Jeff Ward está ótimo também – apesar de seu personagem unidimensional -, e é sempre bom revê-lo depois do final de “Agents of S.H.I.E.L.D.”.
         A busca pela vingança de Lisa através das magias e rituais de Boro (Keener) é marcada por momentos dúbios. Nada é de fato uma vitória para nenhum dos personagens, tanto Lisa quanto Lou Burke (Lange) acabam se perdendo cada vez mais dentre os momentos de gato e rato. É interessante que isso é explicado: quando Boro realiza o primeiro ritual, explica a Lisa Nova que o destino dela e de Burke estão ligados, mas mesmo que ambos os personagens saibam disso, de que um acabaria prejudicando o outro, eles não ligam para as consequências. Já dizia o ditado “antes de sair em busca de vingança, cave duas covas”. 

         A trama se esbanja com o horror corporal, seja através de mutilações, vermes, mortes sangrentas, tudo utilizado por muitas vezes de forma extremamente angustiante, com uma produção muito bem realizada. Os rituais são estranhos, nojentos e o mais verídico que dá para ser numa trama de fantasia.
         Outro ponto positivo na série é a sua mitologia rica e detalhada. Lisa Nova é brasileira e muito da utilização dos animais e da selva, assim como uma revelação que se revela importante no final, remete as florestas tropicais do Brasil. Também é possível ver curtas cenas de São Paulo além de um guaraná Antarctica em um dos episódios!
        
Porém, apesar de todos esses positivos, a série é massante e não empolga como poderia. Talvez não seja o tipo de série boa para maratonar de uma vez só. Ela precisa de mais tempo para ser digerida e ganhar mais impacto com o processamento correto dos acontecimentos. Apesar de ser uma minissérie, ao final dos episódios vários arcos foram deixados em aberto, e não seria estranho vê-la renovada futuramente.
        
Foi difícil chegar a uma conclusão sobre “Vingança Sabor Cereja” pois eu tentava encaixa-la em uma dessas duas características: ótima ou péssima. Mas é sempre bom relembrar que existem coisas que caminham entre essas classificações. A minissérie é ótima, mas possui defeitos. O mais próximo que posso chegar é dizer que: se você busca uma trama fantástica, nojenta e com ótimas atuações mas que trabalhe um slow burn intenso, ela é pra você. Mas independente de qualquer coisa, é definitivamente uma série para se conferir.