Crítica | Werewolves Within

(Werewolves Within)
Data de Lançamento: 25/06/2021 (EUA)
Direção: Josh Ruben
Distribuição: IFC Films

Rir e se assustar podem parecer, em meio a primeiras impressões, emoções completamente opostas. Entretanto, há um bom tempo o cinema de horror tem nos provado o contrário, ao trabalhar a comédia como algo além dos simples alívios cômicos, muitas vezes superando o próprio terror, propriamente dito. Dentro dessa mistura de gêneros nem sempre frutífera, temos aqui um longa levemente baseado em um jogo eletrônico homônimo de realidade virtual, desenvolvido para Windows e Playstation 4. Werewolves Within é o segundo longa dirigido por Josh Ruben, que ganhou notoriedade após seu autoral e independente “Scare Me” (2020) atrair a atenção dos críticos, tanto por sua originalidade no roteiro quanto em seus enquadramentos. Dessa vez, convidado pela Ubisoft a adaptar um texto da humorista Mishna Wolff, Ruben se vê diante de um desafio maior.

O filme se inicia com a chegada do guarda florestal Finn (Sam Richardson) à pequena cidade de Beaverfield. Trabalhando junto à entregadora Cecily (Milana Vayntrub), Finn precisa encontrar um jeito de unir os problemáticos moradores após uma nevasca deixar todos trancados no município, enquanto uma misteriosa e perigosa criatura parece estar ameaçando a vida de todos ali.

Para os que se familiarizam minimamente com o idioma inglês, fica óbvio desde o título do filme que a ameaça aqui se trata de um ou mais lobisomens. De cara, o filme nos conquista com o belo apelo visual presente na criativa direção de arte, que conta com figurinos e cenários caprichados, até os dinâmicos movimentos e ângulos de câmera, que ajudam a contar uma história sobre humanos tentando sobreviver diante de um espaço cada vez mais limitado. O fato é que o humor é o grande alicerce de Werewolves Within, mas também seu calcanhar de Aquiles.

Ainda que a química da dupla de atores principais ofereça gás suficiente, com seus personagens muito bem apresentados e desenvolvidos, para que não percamos nosso interesse pela obra, assim que o roteiro se vê diante da obrigação de dividir igualmente o tempo de tela de ambos com todos os outros personagens, a narrativa perde força e encontra uma gradativa dificuldade em trazer algo novo e envolvente para a história. As piadas, embora em alguns momentos convincentes, logo tornam-se repetitivas e pouco funcionais dentro da trama. 

O horror aqui se resume a jump scares e aos poucos segundos que os antecedem. Não há nada concreto o suficiente  para nos causar medo, tensão ou qualquer sentimento do tipo. A obra dá voz ao obsoleto posicionamento crítico do quão irresponsáveis e primitivos nós, humanos, podemos ser diante de uma situação de perigo, onde não temos controle e onde a desconfiança e as acusações tomam conta de tudo. Dosando muito mal o tempo investido em cada uma de suas cenas e com claros problemas de foco, a obra consegue afastar seu espectador mais de uma vez durante seus 100 minutos de duração.

Mesmo se mostrando um entretenimento satisfatório, despretensioso e até imprevisível em muitas cenas, Werewolves Within deixa a desejar em seu conteúdo cômico e principalmente terrorístico. Josh Ruben entrega um trabalho notável na direção do longa, mas é a falta de direcionamento do roteiro de Mishna Wolff que acaba comprometendo  seriamente boa parte de nosso envolvimento com a trama. A comédia (gênero primário do filme) aos poucos se mostra inoportuna, enquanto pede que o enredo abdique completamente do suspense, que não é desde o início trabalhado como deveria, visto a premissa que nos é apresentada. Ainda assim, a sátira de muitos clichês do gênero de horror e toda a ironia aqui presentes prometem arrancar alguns risos, mesmo que de canto de boca.