Venom
Data de Estreia no Brasil: 04/10/2018
Direção: Ruben Fleischer
Distribuição: Sony Pictures
Desde o exato momento em que foi anunciado pela Sony, “Venom” sofreu da desconfiança dos fãs e do público em geral. O estúdio, que vinha do fracasso de público e crítica de “O Espetacular Homem-Aranha 2” (2014), se demonstrava completamente perdido quanto ao rumo que pretendia tomar quanto ao seu spider-verse. Mesmo com a entrada de nomes fortes como o de Tom Hardy e Michelle Williams no elenco, o que serviu para dar alguma credibilidade ao projeto, ele logo foi amplamente criticado por conta seus dois primeiros trailers, que mostravam uma guinada para o humor, contrariando as promessas iniciais do projeto de que ele seria uma mistura de “terror” com o gênero de super-heróis. Marcado por críticas desde o princípio, “Venom” estreia hoje para mostrar a todos que expectativas negativas muitas vezes podem se converter em surpresa e apreciação… mas não desta vez.
E a primeira coisa que devo dizer sobre o filme é que aquelas primeiras críticas catastróficas que começaram a pipocar na internet no começo da semana são extremamente exageradas (agora falando sem pegadinhas). Comparar “Venom” à desastres como “Mulher Gato” e “Quarteto Fantástico” (2015) beira ao sensacionalismo. Na minha visão, a comparação mais precisa é com um outro blockbuster absolutamente meh deste ano: Jurassic World: Reino Ameaçado. O que os dois tem em comum é justamente sua característica principal e como me senti ao final de ambos: achei até divertidinho, mas não me acrescentou nada. Não me arrependo necessariamente de ter visto ou afirmo que perdi meu tempo o fazendo, mas tampouco jamais recomendaria que ninguém o fizesse. Para mim, tanto o quinto filme (4 a mais além do necessário) da franquia “Jurassic” quanto “Venom” se encaixam naquela categoria do “não fede nem cheira”. Em outras palavras, são filmes sem um pingo de originalidade.
Isso não é dizer que “Venom” seja totalmente desprovido de resquícios de boas ideias. O Eddie Brock de Tom Hardy é carismático e bastante realista em seus dilemas morais, nos caminhos que acaba por optar e as consequências que os acompanham. Além disso, a presença de Anne Weying (Michelle Williams) na trama é bem dosada e consegue evitar que a personagem caia numa posição passiva de “interesse amoroso”, clássica em filmes de super-herói. As atuações dos dois ótimos atores também não deixam a desejar de forma alguma, conseguindo infiltrar um pouco de complexidade em um roteiro no geral bastante simplista (escrito por 4 indivíduos). Por outro lado, o vilão representado por Riz Ahmed é, em poucas palavras, um desastre. Uma caricatura tosca do CEO jovem e bacana com grandes ideias que na verdade é um sociopata, seu Carlton Drake não é nada mais do que um desserviço à críticas realistas e embasadas em fatos sobre a corrupção das megacorporações nos Eua e no mundo. Para piorar, colocar como sua principal motivação uma fuga a outro planeta por conta da destruição gradual e irreversível do planeta Terra por conta da ganância desenfreada é só a cereja nesse bolo de desastre.
Minto. O que completa de verdade a teia do desastre no que diz respeito ao lado dos “antagonistas” é o simbionte. Desde uma ridícula cena inicial que é uma cópia de qualquer filme de zumbi que você já viu na vida, tudo o que envolve Venom e sua contraparte, Riot, é simplista e mal feita. O desenvolvimento de sua atuação como parasita é breve e raso, sendo ultrapassado facilmente pelo de “Vida” (2016). Já o vilão em si, Riot, é tão clichê em seu comportamento e visual, que é simplesmente impossível distingui-lo de “Venom” em muitos momentos. E a culpa aqui cabe inequivocamente ao inexperiente e fraco Ruben Fleischer (“Zumbilândia” (2009)), que se demonstra completamente incapaz de lidar com a escala de um filme deste tamanho. Suas escolhas equivocadas de planos e iluminação faz com que muitas vezes seja impossível sequer distinguir o que está acontecendo. Nas cenas em que é possível acompanhar alguma coisa, “Venom” apresenta algumas sequências de ação razoáveis, mas nada que chega perto do potencial prometido por um filme com sua premissa. Certamente deve haver algo mais interessante a se mostrar de um simbionte alienígena do que socos e chutes em capangas aleatórios.
Ainda sobre Venom, sua relação com Eddie Brock é de fato engraçada e em alguns (raros) momentos bem delineada. O problema é que, ao escolher lidar com seu parasitismo como alívio cômico e não como elemento dramático, o filme completamente descarta qualquer tipo de carga assustadora, que seria natural a um personagem como Venom, em nome do tom leve e amigável de um filme “PG-13” sobre super-heróis. Isso, aliado a outros muitos elementos, é o que faz de “Venom” um filme absolutamente insosso, o “Liga da Justiça” (2017) deste ano. Mesmo quando a Marvel erra, como em “Thor”, ou mesmo a própria DC e Zack Snyder com “Batman VS Superman” (2016) é possível ver que havia ali uma paixão pelo material base e uma tentativa de produzir algo único. “Venom”, por sua vez, é apenas mais um blockbuster querendo arrancar seu suado dinheiro com promessas falsas e uma trama genérica, preenchida por personagens genéricos. Em resumo, não é de forma alguma horrível, mas também passa muito longe de merecer seu tempo.