Verdade ou Desafio

Verdade ou Desafio
(Truth or Dare)
Data de Estreia no Brasil: 03/05/2018
Direção: Jeff Wadlow
Distribuição: Universal Pictures

Vocês querem a verdade? Okay…

Antes de entrar na cabine de “Verdade ou Desafio” eu só conseguia pensar uma única coisa: “Quem teve a ideia idiota de fazer um filme de terror sobre um jogo de Verdade ou Desafio? Talvez se o roteiro e a direção funcionarem até seja divertido, mas é impossível o filme dar certo nessa premissa…”. A parte interessante é que eu estava errado quanto a premissa, pois “Verdade ou Desafio” tem sua força de entretenimento descompromissado justamente na forma com que consegue estabelecer as regras do jogo de maneira clara e objetiva, fazendo com que o espectador tente adivinhar qual será a pergunta feita pelo jogo e como os personagens irão lidar com aquela situação, criando uma narrativa engajante por sabermos que ao menos um daqueles indivíduos tem que se manter vivo para que haja filme nos próximos 90 minutos. A parte triste de tudo isso, é que o roteiro e a direção não sabem como lidar direito com a premissa do jogo, apostando em reviravoltas dignas de novela mexicana ancorados numa direção completamente perdida.

No centro destes elementos narrativos estão alguns jovens que decidem participar de uma rodada de Verdade ou Desafio e, lógico, acabam entrando na maldição do jogo, tendo de falar o que lhe foi perguntado sem mentir ou realizar o desafio, caso contrário morrem de uma maneira absurda. Embora conte com um elenco “grande” no centro da situação proposta pelo jogo (6 a 7 pessoas ao longo do filme), o protagonismo está mesmo na garota Olivia, interpretada até que bem por Lucy Hale, e que se mostra o único ponto forte da galeria de personagens, possuindo um arco dramático que surpreende sem se mostrar indulgente, criando uma lógica na sua mudança de atitude. Ainda que o longa não a desenvolva para além de situações românticas e uma revelação (de novo, novelesca) extremamente forçada na trama, Olivia se mostra uma protagonista gostável por parte do público, que consegue torcer por ela e a percebe como uma garota inteligente e de boas intenções.

O mesmo não pode ser dito da melhor amiga desta, Markie (Violett Beane) que se mostra uma pessoa irritante em fazer drama com tudo, mesmo quando ela está claramente errada nas situações, criando um vácuo emocional quando o filme, na verdade, deseja que sintamos ao menos empatia por esta. Concentrando muito das ações de Oliva nas reações de Markie, o longa acaba por perder o espectador que se sente muito mais vontade de ver esta morta do que se reconciliando em qualquer briga com Olivia. A verdade é que, Markie está ali como um mero dispositivo de roteiro, carregando o objeto certo na hora certa para que as coisas saiam errado, escolhendo “Verdade” simplesmente para forçar uma próxima pessoa a escolher “Desafio” e estar longe justamente no momento em que era necessário estarem todos reunidos – e nem comentarei o fato de que Markie acha algumas informações importantes para a estória numa simples busca no Google.

Mas quando não está se perdendo na forma com que desperdiça sua personagem, o roteiro escrito a oito mãos (sempre um péssimo sinal) se sai melhor em estabelecer desafios intensos que fazem com que o espectador se divirta num certo sadismo do jogo – e os desafio envolvendo um martelo, andar na borda de um telhado, bem como a revelação romântica que alguém tem que fazer num ponto chave, se mostram boas situações de entretenimento criadas dentro do enredo. Contudo, o longa peca ao criar tensão em um personagem ter de dizer a verdade para seu pai e assumir ser homossexual, mas nem ao menos mostrar a cena em que isto acontece, soando completamente anticlimática e completamente sem propósito dramático, estando ali para apenas dar alguma característica àquele personagem. Além disso, diversas informações são apenas jogadas dentro do filme para que se permita lá na frente uma reviravolta/situação a partir disso, sem que aja qualquer construção na estrutura do roteiro (como o fato de um determinado personagem saber onde está escondida uma arma, ou mesmo o fato da protagonista ser uma youtuber de certa fama na internet).

Mas nenhum destes elementos é tão prejudicial quanto a direção nula e completamente perdida de Jeff Wadlow (sim, o diretor de Kick-Ass 2). Ao longo dos anos eu nutri uma raiva profunda por diretores que insistem em utilizar o Jump Scare nos momentos errados somente para ganhar um susto barato ao longo da projeção e assim fingir que seu filme era “tenso” e aterrorizador… Mal sabia eu que ao menos eu devia estar feliz por estes diretores saberem utilizar a ferramenta mais clichê do terror, já que Wadlow tenta fazer susto com o que nem está no enquadramento direito, tentando fazer o espectador pular da cadeira somente com um acorde alto e um pequeno borrão que ocupa 1% do quadro por uma fração de segundos – SIM ESTE HOMEM NÃO SABE NEM AO MENOS CRIAR UM JUMP SCARE NOJENTO (na verdade, só me resta achar que era pra ser um Jump Scare). Mas se fosse apenas nesse quesito que o diretor errasse, o longa ainda se mostraria minimamente aceitável, mas Wadlow vai além e se mostra completamente seguro de que está lidando com um material sério, tentando não aplicar o bem sucedido tom divertido e estúpido de um “A Morte te Dá Parabéns”, e parecendo completamente confuso em que tipo de gênero cinematográfico seu filme se enquadra, criando passagens que nunca soam completamente engraçadas ou realmente assustadoras.

E quando você acha que as decisões visuais da produção não poderiam piorar, somos bombardeados com a composição mais ridícula de alguém sendo “possuído” pelo jogo – o que parece mais uma versão B do Coringa interpretado por Jack Nicholson, só que sem maquiagem e com atores ruins. Este visual esdruxulo acaba por quebrar completamente o envolvimento da plateia com o longa, que se vê sempre rindo dos esforços do filme para transformar tal imagem em algo amedrontador. Mas ainda assim, quando você está prestes a desistir de tentar compreender como alguém pôde deixar as pessoas responsáveis por este filme encostarem numa câmera, lá vem o filme e te apresenta um terceiro ato estúpido e divertido justamente por trazer o pouco de elementos “bons” do filme todo para dentro de seu clímax, fazendo com que “Verdade ou Desafio” se torne um filme que nunca chega a ser horrível completamente e nem minimamente bom… E talvez ser mais do que isso fosse um desafio grande demais para a produção do filme.