(Vivarium)
Data de Lançamento: 27/03/2020 (EUA)
Direção: Lorcan Finnegan
Distribuição: Saban Films
É curioso que filmes com temáticas absurdas e um conteúdo bizarro, por mais incomum que sejam, possuem um lugar nos corações dos fãs de horror, pois querendo ou não, aquilo gera um tipo de desconforto e nos coloca para pensar mais do que a maioria dos filmes de horror propriamente ditos. Vivarium é uma obra independente de ficção científica e suspense, que flertando com o horror cósmico, te agarra por sua estranheza, alimenta o seu consciente com elementos repetitivos e cíclicos, e nos provoca reflexões acerca do nosso mundo e do quão aflitivo e inquietante pode ser um mundo “perfeito” (leia-se fielmente similar).
Na história, de cara nos deparamos com um casal de jovens adultos composto pela professora de educação infantil, Gemma (Imogen Poots), e o jardineiro Tom (Jesse Eisenberg). Ambos estão ansiosos para iniciar uma vida juntos, e decidem dar uma chance para um excêntrico corretor de um novo empreendimento chamado “Yonder”, um conjunto habitacional no subúrbio vendido como um lar perfeito e duradouro para novas famílias. Após o corretor misteriosamente desaparecer enquanto apresenta uma das casas, o casal se vê determinado a ir embora daquele lugar estranho, porém ao não encontrarem a saída, uma onda de acontecimentos ainda mais surreais começam a acontecer, como por exemplo a aparição misteriosa de um bebê em uma caixa com a frase: “criem a criança e serão liberados”.
O diretor irlandês Lorcan Finnegan não tem pressa de nos apresentar um ambiente claustrofóbico (ainda que ao mesmo tempo extenso) de casas verdes e idênticas. Na verdade, a calma aqui é um fator chave. Desde o início nos identificamos com a falta de informação dos personagens, e nos sentimos tão perdidos quanto eles. Aos poucos vamos sendo tomados por uma angústia crescente que apenas é reforçada pela trilha musical e pelo visual extremamente “impecável” e repetitivo, das casas e ruas, às nuvens, que são todas iguais e não possuem nenhum formato. Os sentidos também são suprimidos, pois o casal não consegue sentir o cheiro de nada, nem mesmo sentir o gosto de nenhum dos alimentos empacotados que são depositados diariamente na frente de sua casa.
Além da situação desagradável por conta de toda artificialidade presente naquele lugar, o casal, assim como nós, sem saber quem está por trás de tudo aquilo, se vê sem escolhas e ambos se sentem obrigados a criar o suposto bebê. Porém, crescendo mais rápido que o normal, o garoto, que se torna um ser (humano?) insuportavelmente assustador, acaba sendo a semente do conflito entre Tom e Gemma. Enquanto Gemma passa a tentar criar o garoto de forma sincera (mesmo que apenas tentando andar na linha para ser liberada), Tom não tem paciência e para ocupar seu tempo, começa a cavar incessantemente um buraco no jardim de sua casa, optando por uma tentativa de burlar o sistema.
Utilizando bem de leves alívios cômicos e trazendo questionamentos sobre o quão cíclica é nossa própria vida, sobre o poder de influência que possuímos sobre uma criança, além de observações a respeito de temas como a obsessão, o egoísmo e a indiferença, Vivarium nos convida a refletir sobre como somos despreparados para de fato lidarmos uns com os outros, e sobre como a diversidade de pensamentos pode ser uma salvação e uma condenação, ao mesmo tempo. Ainda que o filme mais levante perguntas do que entregue respostas, e por mais que seu terceiro ato traga sequências extremamente confusas e pouco tenha algo a nos dizer, é uma obra estranhamente interessante para se valorizar e cheia de camadas para discutir sobre.