A Maldição do Espelho

A Maldição do Espelho
(Pikovaya dama: Zazerkalye)
Data de Estreia no Brasil: 12/03/2020
Direção: Aleksandr Domogarov
Distribuição: Paris Filmes

É revoltante que o cinema russo, ora tão original e essencial para a história do cinema mudo nos tempos de Kulechov, Vertov e Eisenstein, além de um relevante veículo midiático por tantos anos, hoje esteja se vendendo aos bordões e às trivialidades mais detestáveis do cinema norte-americano. Ao cair no lugar-comum de histórias saturadas e previsíveis, sustos baratos e uma falta de carinho impressionante com seus personagens, o terror russo vem se transformando, desde obras como A Noiva (2017), A Sereia – Lago dos Mortos (2018) e até mesmo o mais recente Pesadelo (2019), em algo sem identidade própria e muito aquém da qualidade cinematográfica apresentada por mestres como Andrei Tarkovski. Porém, é evidente (e surpreendente) que ainda há público para essas produções.

Na história, acompanhamos a protagonista Olya (Angelina Strechina) e seu irmãozinho Artyom (Daniil Izotov), que após perderem a mãe em um acidente de carro, são enviados para um tradicional internato. Ao se enturmar mais que rapidamente, Olya e seu grupo de amigos resolve pedir desejos em frente à um antigo espelho no porão do colégio, e é quando passam a presenciar acontecimentos bizarros e aterrorizantes com seus colegas e consigo mesmos. Enquanto tentam descobrir mais sobre a história e o passado do local, o irmão de Olya parece estar cada vez mais obcecado pela figura de uma senhora de preto, que acredita ser sua falecida mãe.

A própria trama de A Maldição do Espelho, se assemelha demasiadamente com outra obra, também russa, lançada em 2015 com o nome de “A Dama do Espelho – O Ritual das Trevas“, um provável antecessor da história da Rainha de Espadas. Isso bastaria para nos deixar angustiados com a falta de originalidade da obra, entretanto seu enredo e as circunstâncias que seus personagens enfrentam, são ainda mais controversos. A começar pela personagem principal, que além de não ser interpretada por uma atriz muito expressiva, não transmite as angústias da perda da mãe, e passa a não se importar com seu irmãozinho, sem nenhum motivo convincente. Além disso, ela se enturma (rápido demais para quem está em um estado de superação) com um grupo de jovens pra lá de improvável, onde vemos um valentão, uma patricinha, uma garota acima do peso, e um garoto introvertido. Essa espécie de Clube dos Cinco, não funciona em nenhum momento, pois além dos atores não terem química, são frequentemente abordados por um tipo de professor orientador/herói, que está ali o tempo todo para salvar todos de seus traumas e problemas da adolescência.

Embora a fotografia escura e azulada (tão desgastada nos filmes de horror) impressione pela iluminação em alguns momentos, boa parte da concepção de cenários é prejudicada pela falta de profundidade dos ambientes, quase que sempre escurecidos ao máximo para tentar causar um medo imediato, o que não ocorre. A caracterização da Rainha de Espadas também deixa a desejar, além de ser muito similar ao que já vimos no britânico A Mulher de Preto (2012).

Tentando abordar superficialmente o drama de personagens secundários, além de pincelar preguiçosamente um assunto complexo como a recuperação do luto, a narrativa mais se afunda em problemáticas do que qualquer coisa. A obra acaba por se desviar um pouco do seu intuito comercial já tão mal desenvolvido, para procurar atender demandas do roteiro em um tempo curto de exibição, o que deixa tudo apressado e confuso. A Maldição do Espelho, sem saber para onde ir, escorrega feio em suas próprias intenções e resulta em mais uma fraca e esquecível produção russa do gênero.