Crítica | A Mansão (The Manor) – Welcome To The Blumhouse

A Mansão
(The Manor)
Data de Lançamento no Brasil: 08/10/2021
Direção: Axelle Carolyn
Distribuição: Amazon Prime Video

Para muitos, o envelhecimento pode ser um dos maiores temores de uma vida. Para outros, horrível mesmo é o descaso ou a atenção excessiva de terceiros, fatos que acompanham a terceira idade. Enquanto alguns veem na morte a importância de vivermos cada segundo como se fosse o último, tantos de nós literalmente matariam para ter o privilégio de viver para sempre. E se essa impactante porém verdadeira afirmação lhe parece familiar, caro leitor, é porque tivemos o prazer de refletir sobre a mesma em Missa da Meia-Noite (2021), minissérie dramática da Netflix com elementos de horror, criada por Mike Flanagan. Coincidentemente, pouco tempo depois temos a chance de rever e repensar o tema, mesmo que por um breve momento e sem qualquer aprofundamento narrativo, no longa A Mansão (The Manor), lançado como parte da série de filmes Welcome To The Blumhouse, projeto da popular produtora Blumhouse (de Jason Blum) em parceria com a Amazon Prime Video

O filme, que tem direção e roteiro de Axelle Carolyn, conhecida por dirigir o oitavo episódio da série A Maldição da Mansão Bly (2020), acompanha Judith (Barbara Hershey), uma divertida e bem humorada senhora que, após sofrer um derrame, decide mudar-se para uma casa de repouso, no intuito de evitar trazer complicações para sua família. Poucas noites no local são suficientes para Judith perceber que os demais idosos são, muitas vezes, maltratados pelos cuidadores. Para piorar, ela começa a ter frequentes visões e/ou possíveis pesadelos envolvendo uma criatura sobrenatural, que ataca os moradores do estabelecimento. Para conseguir escapar dali, Judith precisa, antes de tudo, buscar evidências e informações sobre o local, para convencer sua família que não está ficando louca e que tudo é, na verdade, real.

O que nos conquista desde os primeiros momentos é a sensível relação de Judith com seu neto Josh (Nicholas Alexander). Os atores possuem uma química interessantíssima que só é ressaltada pela ótima interpretação de Barbara Hershey, no auge de seus 73 anos, respirando a jovialidade que exala sua personagem, enquanto evidencia seus receios com olhares suspeitos e um semblante sério, necessários para os momentos menos descontraídos. Apesar de alguns comportamentos precipitados de Judith que nos deixam questionando a seriedade do roteiro, nos identificamos com as atitudes da protagonista na maior parte do tempo, o que facilita, e muito, para que o filme torne-se digerível e o entretenimento se mantenha agradável. As descobertas se apresentam gradativamente, conforme algumas pistas são plantadas para aguçar a curiosidade do público. Outras, são colocadas na tentativa de enganar-nos, algo que dificilmente acontece com os espectadores atentos e/ou experientes com filmes do gênero, coisa que, por sinal, A Mansão (The Manor) não procura fugir muito, utilizando de alguns clichês que estamos acostumados.

Os problemas surgem quando o roteiro de Carolyn começa a trilhar um caminho de incoerências extremamente prejudiciais à história, impactando diretamente a relação de Judith com outros personagens, incluindo Josh. Sem motivos razoáveis para tal decisão, o enredo acaba adiando um acontecimento chave que já prevíamos e ansiávamos, mas que só vem a ocorrer nos instantes finais, na intenção de simplesmente mostrar mais do mesmo: cenas angustiantes e revoltantes de cuidadores e familiares questionando a sanidade da personagem principal. Esse desvio de foco narrativo gera, além de tudo, uma modificação do até então cativante ritmo da obra, mas que felizmente é recuperado nos últimos minutos.

O terror visual aqui se faz presente em momentos pontuais, felizmente não se sobrepondo ao drama pessoal enfrentado por Judith e ao conflito externo gerado por sua incapacidade de escapar da casa de repouso. Mesmo assegurando alguns diálogos irônicos e tragicamente cômicos a respeito de como os idosos são vistos pelo restante da população em nossos dias atuais, infelizmente o longa não encontra tempo de tela suficiente para questionar dramaticamente alguns dos temas que o roteiro esboça tão confiante, como a pressão social envolta do envelhecimento, a aceitação da morte como parte do processo e até a implacável solidão existente no cotidiano da terceira idade.

Para prender nossa atenção, A Mansão (The Manor) aposta em elementos misteriosos e instigantes como símbolos, cultos, fotos, informações sigilosas e uma possível conspiração existente entre os cuidadores e os responsáveis pela instituição. O longa da Amazon Prime Video, produzido por Jason Blum, nos conquista em diversos momentos, seja por algumas das circunstâncias propostas pelo roteiro ou pela condução responsável de Axelle Carolyn na direção do filme. Mesmo que de maneira imperfeita, somos levados pela transparência da trama e não fazemos nem ideia do que o surpreendente final nos reserva.