Crítica | A Vizinha da Mulher na Janela (1ª Temporada)

A Vizinha da Mulher na Janela (1ª Temporada)
(The Woman In The House Across The Street From The Girl In The Window)
Data de Lançamento no Brasil: 28/01/2022 (Netflix)
Criação: Rachel Ramras, Hugh Davidson e Larry Dorf
Distribuição: Netflix

Quase um ano após a decepção geral do público para com um dos thrillers mais aguardados até então, A Mulher na Janela (2021), a própria distribuidora do longa resolve, corajosamente, produzir uma paródia em formato de série. Com 8 episódios de 30 minutos, A Vizinha da Mulher na Janela satiriza de todas as formas possíveis as próprias fragilidades e inconveniências do roteiro do longa dirigido por Jon Wright e, o melhor, sem abdicar do bom e velho suspense que todos amamos. Porém, o sarcasmo com o qual se trabalha aqui e a capacidade de rir de si mesmo seriam o suficiente para cativar o público durante 4 horas? Ou mesmo justificar sua produção? Continue lendo para saber mais.

Em A Vizinha da Mulher na Janela, seguimos Anna (Kristen Bell), uma alcoolista que sofre de pluviofobia (medo de se molhar na chuva) e de outros traumas passados, como a perda de sua filha de 9 anos, que ocorreu três anos antes. Combinando vinho, comprimidos, caçarolas de frango e uma imaginação extremamente fértil, a problemática jovem se torna obcecada por seu novo e atraente vizinho, passando a observá-lo. Porém, o que Anna sequer imaginava é que dentro de poucos dias seu novo passatempo a permitiria  testemunhar um assassinato na casa de seu vizinho. Mas poderia tudo ter sido apenas sua imaginação?

Já pelo longo título original (infelizmente reduzido na tradução nacional para fins comerciais) percebemos qual será o direcionamento do humor irônico do trio de roteiristas e criadores da série, Rachel Ramras, Hugh Davidson e Larry Dorf. Construindo uma protagonista com visíveis semelhanças em relação personagem homônima interpretada por Amy Adams no filme de 2021, notamos que Kristen Bell, uma queridinha das comédias românticas das últimas décadas, não mede esforços para trazer toda a ingenuidade para a personalidade desequilibrada que possui em mãos, desenvolvida propositalmente de maneira contraditória. De fato, a atriz, talvez uma das intérpretes cômicas mais expressivas da atualidade, é um dos maiores chamarizes desta produção, e nos conquista desde a primeira cena.

Outro forte elemento da série é a ótima sintonia entre o sagaz roteiro de Ramras, Davidson e Dorf, e a fluida direção do experiente Michael Lehman (Atração Mortal, 1989), que dirige todos os episódios. O humor surge desde situações desconfortáveis e excêntricas até diálogos assertivamente cômicos que aproveitam o momento perfeito para existirem ali. Temos aqui um bom exemplo de estrutura narrativa que equilibra muito bem seu conteúdo satírico e o forte teor de mistério que acompanha todo o enredo e nos impede de desgrudar os olhos da tela. Cada personagem tem seu apelo cômico, muito próprio e funcional, mas também colabora para um propósito dramático muito maior na trama.

Mesmo perdendo o tom humorístico em alguns momentos e não oferecendo algo de realmente novo e engenhoso para o suspense cômico, como o brilhante longa espanhol O Bar (2017) ou mesmo o norte-americano Um Pequeno Favor (2018), a despretensiosa série A Vizinha da Mulher na Janela merece a atenção de todos os amantes do subgênero. Se não por algum motivo melhor, simplesmente por não se levar a sério e cumprir sua função de contar uma boa história de suspense enquanto ironiza astuciosamente, não somente o longa que a inspirou, como também diversos clichês presentes em filmes de suspense e terror.