Crítica | Atividade Paranormal: Ente Próximo

Atividade Paranormal: Ente Próximo
(Paranormal Activity: Next of Kin)
Data de Lançamento no Brasil: 19/01/2022 (Plataformas Digitais)
Direção: William Eubank
Distribuição: Paramount+

O horror no found footage (subgênero que se baseia na ideia central da “filmagem encontrada”) sempre se mostrou uma ótima e rentável aposta para produtores de cinema com baixo orçamento. Além disso, é uma interessante opção para diretores que buscam trazer um maior realismo para seus filmes, com uma estética suja/imperfeita aliada a uma surpreendente intimidade dos personagens para com o espectador. Desde que o italiano Holocausto Canibal (1980) impressionou e perturbou o mundo com a fidelidade de seus eventos, o sub-gênero do found footage foi criando força no gênero de horror, até ser realmente popularizado a partir do excelente A Bruxa de Blair (1999). Mas se o assunto é found footage de terror do século XXI, provavelmente os nomes mais populares que você já deve ter ouvido são o espanhol REC (2007) e o estadunidense Atividade Paranormal (2007) (ambos lançados no mesmo ano), que viriam a se tornar lucrativas franquias do gênero.

Passados quase 15 anos desde o lançamento do primeiro filme e mais de 5 após a estreia nos cinemas do, até então, último filme da franquia de horror sobrenatural, eis que o roteirista de quase todos os longas e praticamente “showrunner” da saga, Christopher Landon, de A Morte Te Dá Parabéns (2017) e Freaky – No Corpo de Um Assassino (2020), resolve produzir um novo roteiro de Atividade Paranormal. O fruto disso é um entretenimento aceitável, com elementos interessantes e diversos clichês da franquia, mas com pouquíssima originalidade, o que o torna extremamente esquecível.

Em Atividade Paranormal: Ente Próximo, nos deparamos com um grupo de 3 amigos composto pelos filmmakers/documentaristas Chris (Roland Buck III) e Dale (Dan Lippert), que acompanham a jovem Margot (Emily Bader) até uma comunidade Amish na esperança de conseguir informações sobre a família dela. Após uma série de acontecimentos estranhos por parte dos moradores daquela comunidade, Margot logo percebe que este povo isolado pode estar escondendo algo sinistro e aterrorizante.

Desde os primeiros minutos de filme, notamos que o roteiro do longa assume a pretensão de ser o mais atual e fiel à realidade possível, e, para isso, os personagens de Chris (câmera-man) e Dale (captador de som) dispõem de equipamentos de ponta, que garantem a melhor qualidade de imagem e som para as gravações. Enquanto os 3 amigos tentam experimentar a cultura Amish de diversas formas e se adaptar aos costumes da comunidade, a narrativa encontra alguns momentos para explorar tematicamente as funcionalidades desses equipamentos super atuais e tecnológicos. O que também não fica de fora são os bons alívios cômicos, interpretados com espontaneidade pelo elenco, o que facilita a identificação do público com a história.

O principal problema enfrentado por Atividade Paranormal: Ente Próximo é a exagerada previsibilidade de seus eventos. Conseguimos antever desde os primeiros 30 minutos de filme, mesmo que sem detalhes, qual será seu desfecho. Ainda que a ruralidade da comunidade faça o filme flertar com o folk horror, mesmo que por debaixo dos panos, ficamos com o sentimento de que com todo seu primor técnico o novo longa da franquia, dirigido por William Eubank, poderia e merecia ter tido um carinho maior por seus personagens e suas circunstâncias. 

Dois artistas aqui realmente merecem atenção e reconhecimento por seus trabalhos: em primeiro lugar a promissora atriz Emily Bader, que se coloca no radar das produções hollywoodianas após conseguir, com naturalidade, extrair bons momentos de sua personagem. Além dela, também o experiente diretor de fotografia Pedro Luque, de O Homem nas Trevas (2016), que trabalha muito bem os movimentos e ângulos de câmera, favorecendo os enquadramentos com uma iluminação mais que competente, que nos convence e nos encanta tanto nas cenas externas noturnas quanto nas internas diurnas. 

Onde o choque cultural alimenta a tensão entre os personagens, no geral, o longa da Paramount+ nos entretém com alguns momentos satíricos, angustiantes e tensos, ao passo que nos alerta para a importância da averiguação de informações sobre desconhecidos e comunidades afastadas, religiosas ou não, antes de depositarmos completamente nossa confiança. Ainda assim, há evidentes melhores exemplos do que o found footage ainda pode nos oferecer nos dias atuais. O eficiente longa Host (2020) é um desses exemplos.