Crítica | Hypnotic

(Hypnotic)
Data de Lançamento no Brasil: 27/10/2021
Direção: Matt Angel e Suzanne Coote
Distribuição: Netflix

Embora muitos não saibam, ataques de pânico graves podem matar. E os mesmos podem ser facilmente causados por hipnoterapias mal desenvolvidas ou mesmo mal-intencionadas. Com uma premissa valiosa em mãos e podendo gerar alertas e traçar inúmeros paralelos sobre o abuso de traumas de pacientes por parte de terapeutas despreparados, é triste que os diretores Matt Angel e Suzanne Coote, responsáveis pelo péssimo Vende-se Esta Casa (2018), não tenham conseguido explorar satisfatoriamente as temáticas do roteiro de seu novo filme, escrito por Richard D’Ovidio. 

Em Hypnotic, acompanhamos Jenn (Kate Siegel), uma mulher que está enfrentando dificuldades para tocar sua vida após um término de relacionamento. Querendo mudar esse cenário, ela busca a ajuda de um renomado hipnoterapeuta chamado Dr. Meade (Jason O’Mara). Depois de  algumas intensas sessões, Jenn passa a ter lapsos de memória após atender uma ligação de um número desconhecido. Em pouco tempo, ela irá descobrir que suas sessões de terapia estão lhe fazendo mais mal do que bem, resultando em consequências inesperadas e mortais para si mesma e para todos ao seu redor.

Ainda que não estejamos acostumados a ver a sempre ótima Kate Siegel em produções que não sejam dirigidas por seu marido e parceiro de trabalho, Mike Flanagan, a atriz já participou de outros projetos, em sua maioria curtas-metragens e episódios isolados de seriados. Aqui, sua interpretação e, principalmente, a de Jason O’Mara, são os principais chamarizes de uma narrativa carregada de irregularidades. O thriller, segunda parceria da dupla de cineastas com a Netflix, oferece diversas cenas com o suspense necessário para que não percamos o interesse pela história, mesmo que essas sejam, em sua maioria, parte de uma fórmula replicada diversas vezes pelo cinema estadunidense. 

Na busca pelo imediatismo e pela reação instantânea do público frente aos acontecimentos da trama, submissa à motivação previsível e leviana do antagonista, Hypnotic não oferece informações suficientes sobre as ferramentas da hipnose e nem mesmo sobre a relação entre paciente e terapeuta. Conforme tomamos conhecimento das verdadeiras intenções do Dr. Meade, sobram dúvidas sobre as técnicas utilizadas pelo terapeuta para conseguir adentrar os traumas de Jenn e controlá-la completamente. Ainda que a falta de seriedade e didática do roteiro afetem nossa experiência, não nos vemos em nenhum momento completamente desconectados da obra. Há um cuidado considerável na elaboração da personagem principal para que torçamos por seu livre-arbítrio e, principalmente, sua saúde mental.

Utilizando precariamente de seus personagens secundários e divagando demais em cima de cenas pouco úteis para o enredo, Hypnotic ainda consegue, em um momento ou outro, nos deixar tensos, tentando antecipar o desfecho da obra, algo, por sinal, não muito difícil. Matt Angel e Suzanne Coote definitivamente conseguem encontrar alguma evolução aqui, uma vez que seu trabalho anterior deixou muito a desejar, narrativamente e tecnicamente. Porém, assim como com o recente Intrusion, a Netflix ainda demonstra dificuldades em trazer algo de novo e substancial em seus últimos thrillers, se apoiando essencialmente no entretenimento imediato e em clichês do gênero.