Crítica | Órfã 2: A Origem

Órfã 2: A Origem
(Orphan: First Kill)
Data de Lançamento no Brasil: 15/09/2022
Direção: William Brent Bell
Distribuição: Paramount Pictures

Muito se fala sobre como é difícil produzir um longa ou seriado derivado de outra obra (audiovisual ou literária), afinal há uma grande parcela de fãs saudosistas extremamente exigentes que dificultam o processo de aprovação/recepção. Mas, não dá pra ignorar o outro lado. A verdade é que cada vez mais os remakes, prequels, continuações e até spin-offs de filmes e séries de televisão nos mostram como a memória afetiva consegue ser um grande artifício, desde a criação de um marketing de divulgação, passando pelo sucesso de bilheteria, e muitas vezes até influenciando positivamente o gosto do público mesmo com roteiros medianos. E o gênero do terror não poderia estar mais dentro desse cenário. 

Quando pegamos Órfã 2: A Origem como exemplo, é evidente que não estamos comparando o longa com a força e o apreço de franquias consagradas como Halloween, Pânico e tantas outras, mas ver uma ótima atriz como Isabelle Fuhrman voltar às origens depois de 13 anos, com uma prequel do longa que abriu portas para sua carreira, é no mínimo interessante. Por mais que não seja algo próximo do impacto de uma Jamie Lee Curtis voltando para seu papel de estréia nas telonas 40 anos depois, ainda é algo a se valorizar. Principalmente quando se trata de uma personagem que a atriz interpretou quando tinha apenas 12 anos, e o longa conta uma história que se passa antes mesmo do primeiro filme. O desafio da caracterização da personagem diante dessas circunstâncias é simplesmente motivo o suficiente para que a nova produção da Paramount Pictures mereça sua atenção. 

Na história, após a fuga de uma clínica psiquiátrica da Estônia, Leena Klammer (Isabelle Fuhrman) viaja para os Estados Unidos se passando pela filha desaparecida de uma família rica que procura uma menina por quatro anos. Após ser acolhida pela nova família, Leena, se passando por “Esther”, começa a cometer pequenos deslizes e mostrar suas reais intenções. Enquanto isso, a menina é vigiada por um detetive particular, que fará tudo para mostrar à família que a menina na verdade não é quem diz ser, colocando em risco a nova identidade da órfã.

O diretor William Brent Bell, conhecido por filmes irregulares (se não fiascos absolutos) como O Boneco do Mal 1 e 2 (2016/2020), além do revoltante Separation (2021), parece ter adquirido, em seu oitavo longa, experiência o suficiente para que tenha seu trabalho levado minimamente a sério pelos críticos de cinema e amantes do horror. Em A Órfã 2: A Origem, podemos encontrar diversos buracos e insuficiências narrativas quando o assunto é causar medo e nos fazer criar empatia por seus personagens. Por outro lado, não é difícil extrair diversas qualidades desta obra que definitivamente não se leva a sério, mas que promete algumas boas surpresas aos espectadores que esperam ver (ou se recusam a ver) mais do mesmo.

Visto que a suspensão da descrença é um dos fatores cruciais para se embarcar na experiência proposta pelo filme, não há espaço para a lógica ou olhares atentos aqui. O leviano entretenimento se valoriza através de cenas isoladas, e principalmente através da tensão criada pela inversão de expectativas do público após uma reviravolta inesperada. Acompanhamos um prólogo possivelmente longo demais, mas que se faz necessário na intenção de apresentar a personagem principal e seus futuros objetivos. Logo que a personagem se instala na nova família graças ao seu tipo específico de nanismo e ao fato de se assemelhar muito com a filha desaparecida, seus conflitos internos e externos não demoram a surgir. O que realmente impressiona e nos agarra de vez para dentro da história é o primeiro ponto de virada, imposto por meio do que podemos chamar facilmente de um dos melhores plot twists de 2022, que nos pega totalmente desprevenidos e provoca sentimentos fortes e inusitados, nos levando até a torcer pelos objetivos de Esther, se é que isso é possível.

A imprevisível humanização da personagem principal, mesmo depois de um longa inteiro dedicado a vilanizar e nos provocar ódio pela mesma (A Órfã, 2009), é claramente mais uma bela jogada do roteiro de David Coggeshall, responsável pelo texto de diversos episódios da série da MTV, Scream (2015-2019), baseada na franquia Pânico. O exercício de nos importarmos com a vida da assassina em série mirim mais famosa do cinema de horror durante boa parte do filme é intrigante, mas poderia ser mais compensador. Ainda que o segundo ato carregue, com inúmeras imperfeições, as maiores qualidades de Órfã 2: A Origem, o resultado apresentado durante a parte final é simplesmente desapontador, além de calculável. Por fim, nem mesmo os pequenos trechos da belíssima “The Glory Of Love” (composta por Billy Hill), reproduzidos em momentos específicos do filme, são capazes de salvar o longa de suas falhas.

Órfã 2: A Origem prova que mesmo sem grandes sustos ou uma história horripilante, é possível fazer longas de suspense e terror que fiquem em nossas memórias, mesmo que diante de um entretenimento que tristemente poderia ter sido bem mais do que foi. Com uma competente interpretação de Fuhrman e um bom ritmo elaborado pela direção de Brent Bell e pela montagem de Brett Detar, a obra se faz um divertimento indubitavelmente acima da média, e promete agradar não somente os fãs do primeiro filme, mas também todo apreciador de um suspense imprevisível e frenético.