Crítica | Rogai Por Nós

Rogai Por Nós
(The Unholy)
Data de Estreia no Brasil: 06/05/2021
Direção: Evan Spiliotopoulos
Distribuição: Sony Pictures

Enquanto filmes completamente distintos como “A Freira” (2018) e “Saint Maud” (2019) buscam nos trazer, cada um à sua forma, sustos, medos ou reflexões sobre a influência do mal dentro do catolicismo, tratando de práticas religiosas, suas ameaças e até seus males, chega a vez da Sony Pictures e do produtor Sam Raimi tentarem agregar de alguma forma a esse universo tão explorado.

Adaptado do livro “Shrine” de James Herbert, publicado em 1983, Rogai por Nós nos conta sobre um jornalista decadente chamado Gerry (Jeffrey Dean Morgan), que, após visitar a região da Nova Inglaterra para cobrir uma possível matéria, acaba presenciando milagres acontecerem pelas mãos de Alice (Cricket Brown), uma jovem com deficiência auditiva que passa a ouvir e falar perfeitamente após ter se comunicado com a Virgem Maria. Ao mesmo tempo que a jovem atribui os milagres à santa, episódios sinistros passam a acontecer, levando Gerry a desconfiar que aqueles milagres não sejam provenientes de algo realmente divino, mas sim demoníaco.

De início, percebemos que as intenções da trama não são tão claras quanto deveriam. Desenvolvendo seu protagonista por meio de alívios cômicos que não conseguem extrair risos do espectador, o filme não demora para se dedicar ao terror, mesmo sem a originalidade que, por alguma razão, alguns de nós ainda esperam ao conferir grandes lançamentos do gênero.

O único nome do elenco que realmente impressiona por sua performance é a novata Cricket Brown, que, mesmo com experiência apenas em curtas-metragens, agarra com unhas e dentes seu papel como uma jovem devota e determinada a espalhar a palavra da Virgem Maria. Já em seu primeiro longa, a jovem demonstra bem os sentimentos de sua personagem através de olhares, se mostrando uma grande promessa para o cinema norte-americano. Para além do ramo das atuações, os holofotes também caem sobre as composições musicais do mestre Joseph Bishara, em um projeto bem diferente de seus últimos, exigindo toques sutis da música cristã envoltos de melodias aterrorizantes.

A direção do já experiente roteirista Evan Spiliotopoulos (estreante como diretor) não trabalha os elementos visuais que remetem ao sagrado e ao profano tão bem quanto poderia. Além da constante presença de cenas e planos desnecessários para o desenrolar da narrativa, há uma visível desvalorização de possíveis efeitos práticos em prol de efeitos especiais, que por sua vez se fazem extremamente exagerados, tomando o espaço de qualquer possível abordagem sutil que construa nossa tensão sem necessariamente expor o espírito maligno a todo tempo.

Rogai Por Nós não apresenta bem o passado e muito menos os objetivos da entidade que assombra os personagens, e apenas tenta chocar a todo custo, com jump scares e com a deformidade física da personagem demoníaca. O filme ainda desperdiça o poder da incerteza, que poderia ser muito bem seu maior trunfo. Ao nos colocar em uma posição onisciente e seus personagens na posição de vítimas que simplesmente acompanham os acontecimentos e tentam conectá-los, a obra perde força ao não alimentar uma dúvida gradativa no espectador junto ao protagonista, pois, diferente deste último, sabemos desde o início que quem está ocasionando os milagres e provocando eventos sinistros não é a Virgem Maria.

A dificuldade do roteiro em balancear e correlacionar os temas que tenta discutir não permite que o espectador leve a sério a história e se engaje com a motivação do protagonista. A busca de Gerry por uma boa e verdadeira história, a fim de se redimir pelos erros que cometeu como jornalista no passado, impede a trama de se dedicar a abordar aquilo que realmente prendeu a atenção do espectador até o momento: a relação entre a fé cega de Alice e as más intenções do espírito com quem se comunica.

A falta de sintonia entre seus personagens e o desenvolvimento de sua trama, mal lapidada, acaba sendo a maior vilã de Rogai Por Nós. Enquanto o roteiro reduz o potencial de sua antagonista à sua aparência, sem a elaborar de maneira amedrontadora, ficamos reféns da expectativa de uma surpresa ou mesmo de um plot twist que recupere nossa atenção pela obra, o que evidentemente não acontece. Com um enredo que muitas vezes beira o incoerente e o contraditório, o filme nos deixa frequentemente com a sensação de despreparo. Despreparo para absorver informações tão mal apresentadas. Por fim, se conclui da mesma forma que se inicia e se desenvolve: mediocremente.

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O República do Medo teve acesso a uma entrevista exclusiva com Evan Spiliotopoulos, produtor, diretor e roteirista de “Rogai por Nós”, sobre suas principais inspirações no gênero e o que o motivou a trazer a história para as telas. Clique aqui para ler a conversa na íntegra!

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