Crítica | The Djinn

(The Djinn)
Data de Lançamento: 08/04/2021 (EUA)
Direção: David Charbonier e Justin Powell
Distribuição: IFC Midnight

Em tempos quando  o horror cinematográfico se afunila cada vez mais em diferentes subgêneros e abordagens relacionadas ao suspense, drama, comédia ou até romance, é empolgante quando encontramos uma obra que faz jus ao puro e genuíno terror, pelo qual tantos de nós somos apaixonados. Aquele capaz de amedrontar e assustar com sabedoria, nos carregando pela tensão crescente de cada canto escuro que os personagens atravessam. Assim como Host (2019) havia cumprido muito bem com sua proposta simples e objetiva de causar medo, The Djinn chega para fazer o mesmo, ainda que  com um diferencial: nos cativando não somente por seu horror bem desenvolvido, mas pelo caráter emocional com o qual  conduz a jornada de seu personagem principal.

Passado em 1989, o filme nos apresenta Dylan (Ezra Dewey), um garoto mudo e asmático que vive sozinho com seu pai após o falecimento de sua mãe, com quem o jovem ainda sonha frequentemente. Uma noite, após seu pai sair para trabalhar, Dylan, de forma inocente, resolve praticar um ritual que promete realizar seu desejo (ter uma voz), mas acaba acidentalmente liberando um demônio sinistro em busca de sua alma. Agora, preso num pequeno apartamento sem muitos lugares para se esconder, Dylan precisa achar uma maneira de sobreviver até a meia-noite, ou pagar as consequências. 

Ao nos colocar exatamente na frágil posição de um adolescente mudo e asmático tendo que encontrar formas de enganar um perigoso demônio em um apartamento sem energia, os diretores e roteiristas David Charbonier e Justin Powell ganham nossa atenção e nos fazem sentir a angústia e a vontade de viver do personagem principal, enquanto nos importamos e torcemos pelos objetivos do mesmo a todo instante. A interpretação primorosa do jovem Ezra Dewey, apenas com olhares, expressões faciais e corporais, é outra grande responsável por essa imediata identificação. 

Não nos vemos sequer um segundo desligados daquela história frenética e bem conduzida. Mesmo mantendo um andamento favorável, o filme ainda encontra espaço para inserir pequenos flashbacks de Dylan, ainda traumatizado pela morte de sua mãe. Essas lembranças, traduzidas ao público hora de forma assustadora, hora de maneira comovente, reforçam a determinação de Dylan em sobreviver e superar seus traumas. Elas até mesmo se relacionam diretamente com o desejo do garoto de possuir uma voz, que acaba sendo motivado por um fator muito mais forte e maduro do que imaginamos.

Ambientado em uma única locação (um apartamento), o filme de baixíssimo orçamento nos envolve com inteligência, sutileza e boas cenas de horror. Dylan acaba descobrindo, junto do espectador, que sua incapacidade de falar é exatamente o que torna mais possível sua sobrevivência, e o personagem usa este trunfo sabiamente. Sem apostar na ignorância de seu personagem, diferentemente de muitos filmes do gênero, principalmente comerciais, The Djinn nos conquista com uma ousada fotografia de iluminação limitada (responsável pelos ambientes escuros) e com uma trilha musical originalmente composta pelo habilidoso Matthew James, que, além de nos horrorizar com harmonias inquietantes, nos brinda, em momentos específicos, com algumas apaixonantes melodias de sintetizadores que refletem bem o fim da década de 80.

Ainda que a mensagem/moral que The Djinn tenta transmitir no final de seu terceiro ato não se apresente da melhor forma e seja, por diversos olhares, um tanto quanto obsoleta, a produção se mostra muito competente e vai direto ao ponto quando o assunto é difundir sensações de horror ao seu público. Com certeza muitas das cenas mais aterrorizantes do filme ficarão por um bom tempo na memória daqueles que tiverem coragem de se arriscar. Com menos de 90 minutos de tela, a obra se mostra consistente o suficiente para figurar como uma das melhores surpresas do cinema de horror independente em 2021.