Crítica | Ninguém Sai Vivo

Ninguém Sai Vivo
(No One Gets Out Alive)
Data de Lançamento no Brasil: 29/09/2021
Direção: Santiago Menghini
Distribuição: Netflix

Há filmes, principalmente de terror, com premissas batidas e tramas praticamente previsíveis, mas com roteiros que conseguem trabalhar seus personagens, elementos assustadores e circunstâncias de forma original, agregando de alguma forma ao subgênero no qual estão inseridos. Dois bons exemplos seriam Invocação do Mal (2013), que conseguiu se destacar no cenário de horror sobrenatural com uma premissa conhecida (uma família que se muda para uma casa assombrada), e também o longa Haunt (2019), que, mesmo usando do familiar argumento de jovens que buscam se divertir em uma afastada casa de horrores, soube revitalizar o slasher com sua narrativa ousada e fora do convencional. Ainda assim, infelizmente a maioria das premissas que já conhecemos tendem a resultar em enredos totalmente “copiados”, com quase nenhuma novidade para o público. Mesmo tentando desenvolver uma perspectiva interessante sobre imigração, o novo terror da Netflix, Ninguém Sai Vivo, cai exatamente neste limbo.

Na história acompanhamos Ambar (Cristina Rodlo), uma imigrante mexicana que, após perder sua mãe, decide tentar a vida em Cleveland, nos EUA. Mesmo sem documentação, Ambar aluga um quarto de pensão decadente só para hóspedes mulheres, administrado por Red (Marc Menchaca). Aos poucos, a jovem passa a notar estranhos acontecimentos e fenômenos inexplicáveis na pensão, enquanto se vê presa em um pesadelo de seu passado que fica mais aterrorizante a cada noite.

Chama a atenção, logo de início, a extrema ingenuidade da protagonista, que se evidencia tanto diante de possíveis aproveitadores quanto ao remexer itens e objetos que não lhe pertencem em busca de respostas sobre os misteriosos eventos da pensão, o que não soa verossímil vindo de alguém com problemas no trabalho e sem documentação. A falta de veracidade do roteiro já nos afasta de uma possível identificação com a protagonista, que não nos convence nem mesmo em suas lembranças “traumáticas” com sua mãe. Mas ainda não perdemos completamente o interesse na trama, pois, afinal, queremos saber do que se tratam as aparições fantasmagóricas e suas respectivas histórias com o local.

Conseguimos antecipar parte dos principais acontecimentos da obra, pois a história se desenvolve seguindo uma trilha de episódios que já vimos nos mais variados longas estadunidenses. Os poucos personagens coadjuvantes que nos são apresentados transparecem rapidamente suas verdadeiras intenções, mesmo que os atores se esforcem para não fazê-lo. Se há um acerto na elaboração dos ambientes internos da pensão e na caracterização dos espíritos por parte do design de produção, o maior culpado aqui é o roteiro, que não aproveita-os devidamente. As misteriosas visões de Ambar, ainda que em certos momentos assustadoras, não conectam os acontecimentos de forma satisfatória. Há ainda, ao final do terceiro ato, uma tentativa de tornar a obra interpretativa, mas que não funciona pela falta de elementos convincentes ao longo da primeira metade do longa.

Diferentemente de O Que Ficou Para Trás (2020), Ninguém Sai Vivo desperdiça a oportunidade de trabalhar de maneira original e convincente o subtexto da imigração, costurando o tema em cima de simples e previsíveis convenções. Mesclando o horror sobrenatural e o thriller psicológico, o diretor Santiago Menghini acerta nas poucas cenas ao nos aterrorizar, mas encontra dificuldades em trazer substância para o texto de Jon Croker e Fernanda Coppel, baseado por sua vez no livro do britânico Adam Nevill. Prometendo alguns sustos e muito mistério, o novo filme da Netflix pode frustrar fortemente os espectadores mais exigentes e ávidos por uma boa trama.