Crítica | Noitários de Arrepiar

Noitários de Arrepiar
(Nightbooks)
Data de Lançamento no Brasil: 15/09/2021
Direção: David Yarovesky
Distribuição: Netflix

Já imaginou o quão assustador e, ao mesmo tempo, de certa forma divertido, seria contar histórias de horror para uma bruxa? Sem dúvidas essa ideia do escritor J. A. White foi algo marcante em seu livro ”Nightbooks”, publicado em 2018. Pouco mais de 3 anos desde a publicação  da obra, a Netflix finalmente lança a adaptação da história para o cinema, num longa de terror infantojuvenil. O diretor David Yarovesky, que já flertou com o gênero em seus longas A Colmeia (2014) e no controverso Brightburn – Filho das Trevas (2019), tenta pela primeira vez trabalhar o medo de forma menos explícita e agressiva, diante de uma narrativa direcionada ao público mais jovem. Noitários de Arrepiar evidentemente não teve a divulgação que merecia por parte da distribuidora, mas será que no fim das contas ao menos agrada em sua execução? Continue lendo para saber mais.

Somos arremessados de maneira abrupta diante do protagonista Alex (Winslow Fegley, de Vem Brincar, lançado em 2020 pela Focus Features), um menino que ama escrever curtas histórias de terror. Por alguma razão, Alex desesperadamente tenta se desfazer de sua coleção de contos assustadores, jurando jamais escrever outro novamente. Enquanto sai escondido de seu apartamento com um livro embaixo do braço, Alex acaba indo parar em uma misteriosa e macabra residência, administrada por uma impiedosa bruxa chamada Natacha (Krysten Ritter). Agora preso e obrigado a servir as vontades da bruxa, o menino precisa contar suas histórias horripilantes para Natacha todas as noites se quiser continuar vivo.

De cara, nos impressionamos com o fato de Natacha ser caracterizada mais como uma bruxa “glamourosa” do que verdadeiramente aterrorizante, mas suas atitudes logo se mostram tão cruéis quanto as de qualquer bruxa. Por falar em glamour, o que fala mais alto no filme é definitivamente seu capricho visual. Aqui, o design de produção assegura uma ambientação pra lá de funcional, com cenários, figurinos e objetos de cena que realmente ajudam a contar a história, assim como os competentes efeitos especiais. Porém, é exatamente quando o assunto é sua trama que Noitários de Arrepiar já não satisfaz da mesma forma.

Temos diversos elementos e subtramas que funcionariam muito bem separadamente, mas que ao se juntarem acabam entregando um resultado aquém do esperado, justamente por não receberem a devida atenção/tempo de tela. A atriz coadjuvante Lidya Jewett que interpreta Yazmin, uma jovem que também se encontra aprisionada na residência da bruxa, simplesmente simboliza o componente necessário para ajudar o protagonista em seu objetivo e estabelecer uma amizade com Alex, mas sua falta de profundidade nos impede de realmente nos identificarmos com a personagem. O mesmo acontece com os próprios contos de Alex, que evaporam diante do dinamismo do roteiro, sem que possamos absorvê-los e quem sabe os relacionarmos com a história principal.

Querendo contar uma história com peças demais para tão pouco tempo (103 minutos), o filme perde a chance de aproveitar sua premissa tão única e estimulante. A trama, inclusive, com certeza seria muito melhor explorada em um formato de série, trabalhando um conto de Alex por episódio, e simultaneamente desenvolvendo sua história principal aos poucos. Da forma apressada como a trama nos é apresentada, nos vemos frequentemente reféns do objetivo principal do protagonista (fugir daquele lugar assustador e voltar para sua casa), sem podermos ser cativados por qualquer outro elemento extra senão os comentários irônicos de Natacha sobre os contos de Alex.

Noitários de Arrepiar basicamente parece ser um caldeirão de poções de uma bruxa, que lança aleatoriamente todo e qualquer ingrediente que já tenha funcionado de alguma forma em filmes e seriados juvenis de horror, na esperança de enfeitiçar seu espectador. E se isso de fato acontece em certo momento, não dura o suficiente para que nos lembremos após os créditos finais. Ainda assim, a obra não se faz isenta de situações divertidas e aterrorizantes, e pode muito bem agradar a quem busca um entretenimento dinâmico e não faz questão de conferir algo original e bem desenvolvido.