Possessor

Possessor
Data de Lançamento: 25/01/2020
Direção: Brandon Cronenberg
Distribuição: Neon

Possessor (2020) é o segundo longa escrito e dirigido por Brandon Cronenberg, filho do renomado David Cronenberg, estrelado por Andrea Riseborough (O Grito, 2020), Christopher Abbott (Ao Cair da Noite, 2017) e Jennifer Jason Leigh (Os Oito Odiados, 2015).

O curioso é que Leigh trabalhou em um filme do Cronenberg pai, eXistenZ (1999), que possui algumas similaridades com o enredo na nova produção do filho. Em Possessor (2020) há também uma interface que transporta a mente para uma outra realidade. Esta, no entanto, não é um ambiente virtual, mas sim o corpo de outra pessoa.

Tasya Vos (Andrea Riseborough) trabalha para uma companhia que vende assassinatos. O serviço consiste em invadir o corpo de outra pessoa através de um aparelho tecnológico futurista, permitindo a assassina que controle as ações do outro. A cena inicial já nos dá uma boa ideia disso: uma mulher assassina um homem a facadas. Sem cortes, a sequência nos apresenta uma violência bastante gráfica.

Aprendemos um pouco sobre os dramas quotidianos de Taysa. Ela tem problemas em seu casamento e tenta conciliar o trabalho de assassina com a vida marital e a criação de seu filho. Esses problemas, porém, começam a atrapalhar o seu serviço, especificamente falando, começam a interferir na sincronização da interface. O mundo “virtual” começa a se fundir com o “real”. O grande problema é que, nesse caso, o virtual também é real.

A protagonista recebe uma nova missão. Ela deve controlar o corpo de Collin Tate, empregado de uma rica empresa de mineração de dados. Se trabalho consiste em colocar óculos de realidade virtual, que o transportam para um aconchegante escritório, e investigar, no seu computador virtual, as câmeras de pessoas comuns.

Os problemas que Taysa leva para a possessão do corpo de Collin geram crises de identidade e sua personalidade começa a se fundir com a dele. Sua chefe, contudo, não a retira da missão, pois ela ainda não está completa, o que apenas agrava e aprofunda a crise, desencadeando acontecimentos perturbadores.

Brandon Cronenberg segue a linha de horror corporal que foi explorada pelo seu pai. Sua abordagem, porém, é bem mais próxima das questões atuais. Ele consegue colocar em um mesmo filme o medo em relação à violação de nossa privacidade, uma crítica à exploração capitalista do trabalhador e as inseguranças em relação ao corpo e à identidade.

O diretor traduz através do horror corporal as ansiedades da vida contemporânea. A exaustão decorrente da rotina, a necessidade de se encaixar em padrões sociais e mesmo os conflitos de classe são expressos através da violência contra o corpo. Aliás, a protagonista não apenas mata os seus alvos, ela profana os seus corpos.

Possessor (2020) é um excelente filme cuja maior qualidade é conversar com nossas próprias inquietações e representá-las através de um visual marcante. Oitos anos após o também excelente Antiviral (2012), Brandon Cronenberg nos presenteia com mais uma reflexão perturbadora sobre a vida contemporânea.